Contação de Histórias em Itu

Contação de Histórias em Itu

quarta-feira, 19 de maio de 2010

As coisas que me irritam

No budismo dizem que não vale à pena se irritar e muito menos reclamar. Mas eu me irrito, tento me manter tranqüila algumas vezes, mas acho que isso é coisa de monge, ainda não cheguei lá. Pia suja, cheia de coisas me irrita, e ainda eu odeio lavar louça! Os zens dizem que é um bom momento para meditar, estar ali e não pensar em mais nada, só naquilo. Gente é impossível, barrrrrrrrr.
A Fernada Yang me irrita profundamente, aquele jeitinho dela irritante, uiiiiiii . E o Faustão, nossa sra dos bons ouvidos!, ele fere os meus tímpanos e me irrita como ninguém .O Jornal Nacional então, nem me fale, além de me irritar me dá pânico. Parei de assinar o jornal impresso, por conta da entrega, que aqui na chácara era péssima, ora entregavam ora não. Então achei que podia assistir ao Jornal Nacional para ficar informada, saber afinal o que estava acontecendo. Comecei a ficar apavorada, literalmente com medo do mundo e das pessoas. Será que não existe notícia boa???? Que mundo é esse? Passei a assistir o Jornal da Cultura e pude relaxar e observar que na TV também tem boas notícias e boas informações, e que o mundo não está totalmente perdido, alívio.
O silêncio alheio me irrita. Sabe quando alguém, muito próximo a você, está com um problema sério, mas não diz absolutamente nada? Isso me deixa irritadíssima. Caramba, quero saber e tentar ajudar, quero que a pessoa converse para que ela mesma consiga melhorar e digerir essa “coisa estranha” dentro dela. Mas as pessoas muitas vezes são túmulos impenetráveis. Que irritante, eu aqui prontinha para oferecer meu ombro ou uma palavrinha de consolo, um carinho, qualquer coisa. Como não consigo fazer nada, me irrito! Fico tentando carinhosamente tirar um pouco, que possa me sinalizar algo, mas nada! Pois bem, as pessoas são diferentes, se comportam diferentemente umas das outras, e vamos considerar, é bom é humano e não faz mal nenhum algumas serem fechadas nos seus mundos, mas conviver com isso me irrita.
Os homens são diferentes, quando estão chateados muitas vezes entram em suas caverninhas impenetráveis e nós mulheres, que na maioria das vezes escancaramos os nossos sentimentos, ficamos irritadas com o silêncio deles. Acho que é assim mesmo, mas devo confessar que adoraria acordar num belo dia e à partir daí, nada mais me irritasse. Eu seria mil vezes mais feliz. Um dia chego lá e aí serei monja ou anjo

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Polivalência

Na tentativa de dar conta de tudo, acordei às 5 da matina.
Igualzinho me foi ensinado, sentei-me confortavelmente, com as pernas cruzadas, a mão esquerda pousada delicadamente acima da mão direita, e os dedos polegares se tocando levemente. Consegui alguns minutos de meditação, fiquei atenta à respiração nasal, aos barulhos externos, ao ambiente e aos sons. Ôba , se isso é meditar eu consegui! ( eu sou ansiosa e meditar melhora muito a ansiedade, até os médicos mais céticos estão indicando). Mas definitivamente não dá pra ficar por muito tempo em estado meditativo, os pensamento relacionados aos afazeres do dia, involuntariamente tomaram conta da minha cabeça e puf, a meditação fugiu pra dar lugar aos pensamentos práticos, as responsabilidades . Preciso acabar o jornal da Cooperativa, pensei. E lá fui eu correr contra o tempo para entregar no prazo estabelecido, o jornal mensal que faço para a cooperativa de leite da região de Mococa. Faço esse trabalho na minha casa, onde eu também cuido do jardim, que é imenso, lavo e passo roupas, cozinho às vezes, e arrumo a minha bagunça e do meu filho mais novo. Pela tarde dedico meu tempo ao trabalho no clube, onde presto uma assessoria de comunicação e marketing. Lá fazemos uma revista eu e meu companheiro de trabalho Flávio. Ainda faço captação de patrocínio, o endomarketing e também produção e divulgação de eventos na mídia, além de alimentar o site do clube com algumas notícias.
Uma vez por semana pela manhã, estou trabalhando com idosos em uma clínica particular. Para eles eu conto histórias, converso e tento arrancar as histórias da vida deles, o que não é fácil, já que a maioria dos moradores do lugar está bastante debilitada. Depois que comecei esse trabalho torço todos os dias para ter uma boa morte, daquelas vapt vupt, onde não se fica debilitado ou encarcerado numa cama ou cadeiras de rodas absolutamente dependente. Apesar de eles serem uns fôfos e de me inspirarem amor e compaixão é realmente, muito, muito triste!
Agora para engrossar a renda mensal estou me metendo em um novo e promissor negócio. Vendo canoplas de papelão reciclado para fábricas de piscinas de fibra. Muito engraçado porque muitas vezes tenho que viajar de caminhão, ora pra buscar os tubos que eu compro em outra cidade de uns catadores de lixo- todos velhinhos também- ora pra entregar para as fábricas. Outro dia, aproveitei um frete que ia vazio para Artur Nogueira buscar uns moldes de caixa d’água, e como tenho um cliente lá aproveitei o custo zero para levar minhas canoplas. Entreguei a minha mercadoria e tive que esperar quase que o dia inteiro o caminhão ser carregado com os moldes. Na volta, já na estrada, a carga começou a cair. Tivemos que parar no acostamento, estávamos só eu e o motorista quando me vi, ajudando-o a arrumar a carga. Tive que me expor para os outros carros que passavam na rodovia, já que a minha função era puxar a corda enquanto o motorista arrumava aqueles moldes enormes em cima do caminha. Foi hilário, os caminhoneiros que passavam buzinavam, gritavam e eu de bermuda, com as pernocas expostas, puxando aquela corda, fazendo uma força descomunal.
Agora vou resmungar um pouco: penso que é demais, é muita coisa pra uma pessoa só. Questiono-me se estou maluca e o pior, se estou fazendo as coisas direito, se não estou acumulando muitas funções e no final fazendo tudo errado! Gostaria de ter mais tempo para meditar, de ter mais tempo para cuidar das plantas e de mim mesma, ir ao cabeleireiro, fazer as unhas, essas coisas que toda mulher faz e que faz um bem doido. Ah e ainda ter tempo para olhar ao meu redor, como diz uma amiga, “Você não tem namorado porque não olha ao seu redor”. Mas não tenho muito tempo pra olhar ao redor, o pouco tempo que resta é para assistir um bom filme ler um bom livro, escrever aqui e conversar , que eu adoro, com os amigos queridos. Será que ser polivalente é um grande erro? Acho que não, porque é uma questão de sobrevivência. Mas mesmo sabendo que preciso sobreviver com dignidade, com alguns luxos talvez, às vezes me pego pensando, será que estou fazendo tudo errado?????